LUDUS

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LUDUS

“Paisagem, objeto transitório” De acordo com o filósofo Gilles A. Tiberghien: Quando evocamos a paisagem hoje, falamos de percepções individuais, mas também de representações coletivas, da natureza mas também da sociedade, de contemplação estética e domínio do território, psicologia e política. Ou seja uma construção cultural e estética. A sua representação não se limita portanto ao registro do real, tal como o percebemos, mas é sobretudo uma representação proposta por uma dada cultura e é dentro dessa chave que podemos compreender o trabalho de Ale Ruaro.


Ele se serve de uma referência clássica da representação do território, as vistas, para trazer o deserto, paisagem ancestral, a partir de uma observação do alto, uma janela para o mundo, em contraponto a essas imagens surge, em Ludus, uma paisagem dialética, que estabelece um tipo muito diferente de relação com o espectador. Relação de frontalidade, onde ele é instalado no meio mesmo desse território em abandono, ou antes em transformação.


Agora a paisagem não é o veículo de transcendência para um outro mundo, mas na verdade é o próprio sujeito , antítese de uma imagem idealizada da natureza. Se a princípio Ruaro vê a paisagem como um ente exterior, algo que se projeta diante dos olhos, é para em um segundo momento trazer uma aproximação direta com as coisas e o território. No primeiro caso podemos falar de um expectador, no outro de um partícipe, ele não observa a paisagem, ele está na paisagem.


Para além do efeito documental das suas imagens, Ludus estrutura um território do imaginário, onde a paisagem sugere o início de narrativas múltiplas a partir dessa paisagem/cenário. As coisas gravitam em torno de um não-lugar, espécie de miragem no deserto, entre o sonho e a ficção. Todos os elementos levam a crer que o olhar que vê esse lugar é o olhar do viajante, não por acaso o corpo humano surge apenas como aparição que se instala, não na paisagem propriamente dita, mas na imagem fotográfica, apenas de passagem.


Não é de individualidade que se trata, mas de alegoria, uma representação que participa à construção ficcional e habita esse lugar temporariamente. Ale Ruaro, um exímio retratista evoca a paisagem em sua dimensão temporal, assim não estamos diante de uma representação das coisas, mas da sua temporalidade. Ele nos coloca frente à escala de tempo dessa paisagem, onde os rastros da presença humana se instalam de forma precária. Suas imagens sugerem um presente em suspenso, onde a ruína apenas sugere um antes, e onde já antevemos a reapropriação desse território pela natureza, questão de tempo." - Eder Ribeiro

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